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Caixa Acústica Devore Fidelity Gibbon 3XL - Review Clube do Áudio

9 de novembro de 2022 – Reviews

Fernando Andrette.

Devore Fidelity Gibbon 3XL.

Todo audiófilo passará por profundas mudanças do inicio de sua trajetória até o encontro com seu tão sonhado objetivo: montar o seu ‘santo graal’ sonoro. Alguns com menos ansie- dade e mais cientes do que buscam, talvez pulem etapas e sigam em linha reta até o seu grande objetivo. Aos ansiosos e cheio de dúvidas, restará seguir por estradas sinuosas que muitas vezes nos levam, no fim da caminhada, a muitas decepções.

Conheci ao longo de minha carreira como editor muito mais audiófilos frustrados do que realizados. Tanto que o número de pessoas que no meio do caminho desiste do hobby é muito grande! Meu pai foi um audiófilo que jamais encontrou seu ‘santo gral’ sonoro. Peregrinou por diversos caminhos, na esperança de achar um sistema que combinasse o melhor das válvulas com o transistor e morreu frustrado em não concretizar esse seu sonho sonoro.

Estivesse ele vivo ainda hoje, sua busca ainda estaria a lhe atormentar, por uma razão muito simples: muitos audiófilos, como o meu pai, criam em sua mente uma referência do que imaginam ser o ideal. E esse ideal não existe! Para os que conseguiram desviar dessa ‘armadilha’, garanto que as opções existentes podem satisfazer a todos (ou quase todos), pois a diversidade nesse mundo audiofilo é tão extensa que as possibilidades de você se deparar com a ‘assinatura sônica’ que tanto deseja é cada vez mais consistente.

Nos nossos Cursos de Percepção Auditiva, sempre lembro aos participantes que o ideal é que iniciemos pela escolha da caixa acústica, pois ela, mais do que todos os outros componentes nos dará a assinatura sônica do sistema! É muito parecido com o processo do músico que escolhe seu instrumento. Se você tiver tempo e interesse, visite uma loja de instrumen-tos musicais em um sábado, e observe como os músicos, sejam iniciantes ou profissionais, dedicam seu tempo à busca do instrumento ideal.

Lembro quando fui com meu filho comprar seu primeiro violão e o vendedor nos apresentou seis modelos de diferentes preços e com assinaturas sônicas tão diferentes. Meu filho com apenas 6 anos de idade, sequer conseguia segurar o instrumento corretamente, mas quando ele começou a dedilhar, ficou notório como cada um pertencia a um determinado nível.

O chamado instrumento de entrada tinha uma sonoridade fechada e oca. Seu som chegava a ser irritante! Os dois violões de nível intermediário soavam com maior inteligibilidade, porém com um decaimento nos extremos muito acentuado e os dois de melhor qualidade (de acabamento e sonoridade) eram dedicados apenas aos músicos profissionais. Poderíamos chamá-los de violões hi-end!

A diferença meu amigo era simplesmente da água para o vinho!

Voltando às caixas acústicas, o processo é bastante semelhante. Não tenha pressa. Ouça o maior número possível de modelos (dentro do seu orçamento), leve na casa dos amigos seu discos preferidos, observe que em cada caixa determinadas características se sobressaem.

Aos marinheiros de primeira viagem, os tranqüilizo dizendo que existe uma forma de deixar todo esse processo mais simples, objetivo e prazeroso. Atenha-se a três coisas: inteligibilidade do acontecimento musical (detalhes que você não havia percebido nas suas gravações preferidas), conforto auditivo (nada de freqüências agressivas) e naturalidade (nas vozes e instrumentos acústicos). Você ficará surpreso como que em cada caixa acústica o mesmo trecho pode soar tão distinto!

Toda essa introdução foi para apresentar a caixa DeVore Fidelity modelo Gibbon 3XL e iniciar o teste afirmando que trata-se de uma bookshelf com qualidades sonoras muito definidas e que certamente agradará muito mais ao audiófilo ‘rodado’ do que ao iniciante.

John DeVore é um músico que também, antes de abrir sua empresa, trabalhou em revendas de produtos hi-end. Então ele conta em suas entrevistas que ele sabe fazer duas coisas: “Tocar Música (como músico) e tocar música (como fabricante de caixas acústicas)”.

E, depois dessa apresentação de suas duas habilidades, ele apresenta suas credenciais como projetista ao afirmar: “Eu sei que a reprodução musical nunca se aproximará da experiência da música ao vivo, mas tornou-se meu objetivo criar caixas acústicas que tragam ao ouvin- te a experiência de audição”. Parece ser este o objetivo de quase todo fabricante de equipamentos hi-end. Porém, sabemos que alguns poucos realmente conseguem.

John DeVore, ao ser questionado como projeta suas caixas acústicas, sempre afirma que seu maior objetivo é perseguir projetos de engenharia que sejam alinhados com uma integrida-de artística, como na concepção de um instrumento musical. Para ele, um design perfeito não é aquele onde a forma segue a função, mas sim onde a forma e a função são desenvolvi-das como iguais e com o mesmo peso, para dar sentido ao produto idealizado.

Traduzo: a maioria esmagadora dos fabricantes de caixas hi-end, busca construir gabinetes com o maior grau de rigidez possível, para evitar colorações de gabinete. DeVore vai na direção oposta: seus gabinetes não são rígidos o bastante para neutralizar as colorações e sim são utilizados para trabalhar em consonância com os falantes.

Ou seja, holisticamente falando suas caixas se parecem mais com instrumentos musicais e não caixas hi-end. Mas claro que para se chegar a essa solução o todo tem que ser meticu-losamente pensado e selecionado. Assim são os falantes feitos sob medida para os seus projetos, os crossovers de primeira ordem com o mínimo de componentes e constru- ção dos gabinetes.

DeVore explica que o detalhe é uma qualidade primordial para ele e um bom alto-falante tem que possuir clareza e possuir a capacidade de entregar tudo que está registrado na gravação. E quando ele fala em clareza, está falando em correção e naturalidade tímbrica. Diz ele: “Um alto-falante com mais brilho (e não clareza), é projetado para se destacar em uma sala de som.

Esse falante possui um impulso no meio médio que faz vocais, violões e outros instrumentos soarem mais afiados e presentes. Em um comparativo rápido, pode parecer impressionante, pois esses falantes enfatizam os sons S e T nas gravações vocais desconectando essas sílabas do resto da voz. Porém, em uma audição longa se tornam cansativos. Um falante com verdadeira clareza não exagera nenhuma freqüência ou som acima dos outros, soando muito mais imparcial, deixando cada instrumento tomar o lugar apropriado.

Um sistema de alto- falantes que tenha melhores detalhes permitirá que você ouça mais as nuances sutis no desempenho gravado” (chamo essa característica, na nossa metodologia, de intencionalidade).

E DeVore completa seu raciocínio: “Os pequenos detalhes podem não se destacar muito individualmente, mas juntos eles o aproximam do desempenho e permitem que o ouvinte se torne muito mais imerso na experiência. Tornando a possibilidade de conseguir que seu cérebro acredite que há música ao vivo na sala com você”

Nossos leitores mais antigos e fidedignos não acharão nada de novo nas observações de John DeVore, pois bato nesta tecla há muitos anos (principalmente aos que fizeram nosso Curso de Percepção Auditiva). Para enganarmos nosso cérebro a acreditar que o acontecimento musical está ali a nossa frente, é preciso muito mais que um correto equilíbrio tonal!

Enquanto o audiófilo ficar comparando graves, médios e agudos, ele não conseguirá enten-der que um sistema hi-end oferece muito mais que isso! Imersão, inteligibilidade naturali- dade e conforto auditivo são atributos possíveis de se atingir em bons e bem ajustados sistemas. Agora, aquele grau de emoção e arrebatamento só são possíveis com sistemas em que todos os detalhes foram trabalhados à exaustão. Caso contrário, sempre algo fica à desejar.

É como a alta culinária: você não a aprecia diariamente, mas quando você tem a oportuni-dade de conhecer um prato feito com maestria, aquela sensação gastronômica/sensorial estará gravada em sua memória para sempre.

John DeVore busca dar ao ouvinte interessado em seus produtos uma experiência auditiva diferenciada de tudo que ele já escutou. Se esse ouvinte irá apreciar ou não sua proposta, já são outros quinhentos, mas certamente ele perceberá que as caixas acústicas DeVore possuem uma assinatura sônica muito diferenciada e com nuances bastante incomuns.

caixa-acústica-devore-fidelity-gibbon-3xlÁudio.

Interessante é que, em termos de proposta visual, nada nos parece diferente. Um belo acaba-mento, falantes de excelente qualidade com cone de papel e tweeter de cúpula de tecido. Gabinetes, ao toque do nó dos dedos, com boa rigidez, porém não tão secos,e termi-nais de boa qualidade, porém nada excepcionais.

E se o ouvinte for curioso e colocar a mão no gabinete com a caixa tocando, perceberá que elas vibram em determinadas freqüências, porém sem causar nenhum tipo de distorção no acontecimento musical. Algo semelhante a se colocar a mão no corpo do violão enquanto as cordas estão vibrando (claro que de forma mais sutil no gabinete da caixa). Dando-nos a impressão que a DeVore se assemelha mais a um instrumento musical!

Outra qualidade que apreciei muito foi a sensibilidade de todas as caixas desse fabricante, começando com 90 dB (para o modelo em teste) chegando aos 96 dB no modelo Orangutan O/96.

Quando DeVore era vendedor de produtos hi-end ele percebeu que, para amplificadores valvulados Single-Ended de baixa potência, a variedade de opções de caixas acústicas para esse segmento era muito restrita. Ainda que bastante desejadas por muitos audiófilos.

Essa lacuna levou-o a definir um nicho de mercado muito promissor a ser trabalhado. E ele estava correto em seu raciocínio, pois suas caixas são muito utilizadas com diversos modelos, sendo um em particular a cereja do bolo: eletrônica japonesa Shindo!

O casamento das caixas DeVore com esses amplificadores são descritos como um casamento dos deuses!

Nosso querido amigo César, violinista da Osesp (que possui uma DeVore modelo Gibbon 88x, com eletrônica Audiopax), nos disse que o sistema que mais o impressionou quando esteve em Nova York foi a apresentação da obra Sagração da Primavera, de Stravinsky, em uma eletrônica Shindo de apenas 15 watts com a DeVore Orangutan O/96! Testemunhos como o dele existem às dezenas nos fóruns internacionais (o distribuidor da DeVore no Brasil já está em tratativa adiantada para também ser o distribuidor oficial da Shindo).

Para o teste, utilizamos os seguintes equipamentos: power CH Precision M1 (1 nesta edição), pré amplificador L1, integrado Hegel H90, pré Dan D’Agostino, power Hegel H30 e power Air Tight ATS-1. Fontes digitais: Luxman D-06U e sistema dCS Scarlatti. Cabos de caixa: Reference MagicScope Sunrise Lab e Transparent Audio Reference XL MM2. Cabos de interconexão: Ágata SaxSoul, Sunrise Reference MagicScope e Opus G5.

A DeVore 3XL veio com menos de 20 horas de queima, e o fabricante pede um mínimo de 200 horas, mas pode arredondar essa queima para pelo menos 350 horas, pois as mudanças são dramáticas até ela estar plenamente amaciada. As alterações são realmente drásticas da saída da embalagem até sua estabilização final. Tão intensas que o audiófilo que não tiver paciência vai achar que sua caixa ou veio com defeito ou não toca nada do que leu a respeito.

É assim mesmo, pois como um excelente instrumento musical (desculpe a analogia - mas se parece muito com um instrumento), precisa de tempo para todos os componentes se ajusta-rem. E não estou falando apenas dos componentes mecânicos (falantes), ou eletrônicos (crossover) - falo também do gabinete.

O Fernando Kawabe enviou junto com a caixa, o seu pedestal. Como seria longo seu amaciamento, achei conveniente deixá-la em queima no pedestal da Audio Concept, para só depois quando em teste, colocá-la em seu devido pedestal.

Foi torturante escutar a caixa as primeiras 50 horas! Parece que a caixa só tinha médio (lembra um falante full-range, capado nos extremos). O comprador terá que se municiar de paciência e fé - pois, acredite, o milagre ocorrerá. Com aproximadamente 70 horas, os agu-dos se encaixam, permitindo o comprador ouvir alguns discos com maior interesse.

A primeira dica de que a caixa começará a mostrar seus atributos (por volta de 100 horas) é quando os planos surgem mais bem recortados e focados, e o corpo do médio-grave finalme-nte se apresenta.

Com 120 horas, os detalhes de micro-dinâmica surgem e nos dão um primeiro vislumbre da graciosidade e naturalidade da caixa. A partir desse momento você irá começar a ampliar a pilha de discos que você deseja ‘redescobrir’ no seu sistema. Nessa fase, os agudos já possuem ótima extensão, corpo e velocidade. Pequenos grupos musicais e música tocada com instrumentos acústicos se apresentam com um grau de naturalidade arrebatador! O som literalmente surge do silêncio com uma paleta de cores e formas que nos leva a uma completa imersão no acontecimento musical.

Com 200 horas, finalmente os graves se tornam presentes e com um grau de precisão e corpo difícil de aceitar que saia de um falante de 5 polegadas e meia. O fabricante fala de uma resposta nos graves de 45 Hz, mas a sensação é que descem um bocadinho mais. Essa mágica, na verdade, está no corpo do médio-grave, que é excepcional (talvez o melhor corpo nessa região de todas as caixas bookshelf por nós testadas). E quando escutamos a DeVore na nossa sala de Home de 12m² você não sente nenhuma falta de grave. Simplesmente
espantoso!

Com sua sensibilidade alta, todos os amplificadores a conduziram com um pé nas costas. Mesmo o Air Tight, de apenas 25 watts por canal, não teve nenhuma dificuldade, com nenhum gênero musical. E não pense que a DeVore não goste de desafios, pelo contrário: ela suporta excelente pressão sonora, e não se intimida com nenhum gênero musical.

Li em alguns testes internacionais que ela não é tão amigável com alguns gêneros musicais, como rock pesado. Ela em nosso teste não se intimidou com nada. Ouvimos de Megadeth à Ben Harper, passando por obras clássicas de todos os períodos, de jazz, folk, MPB, blues e nada a colocou em risco.

Mas, para você extrair todo o seu potencial, será essencial o uso de seu pedestal. Construído com o mesmo material da caixa, o pedestal permite que os falantes fiquem na altura exata para uma melhor dispersão lateral e para o ajuste do toe-in (fundamental para um excelente recorte, altura, largura e profundidade), pois os falantes têm que ficar corretamente posicio-nados em relação ao ouvinte. Com o pedestal da Audio Concept o tweeter ficava à altura
do ouvido, dificultando o posicionamento correto das caixas na sala.

Para dar uma idéia exata da importância do pedestal, eu não consegui no Audio Concept, em hipótese alguma, uma boa profundidade e altura. Os músicos parceciam sempre estar sentados e nas gravações de musica sinfônica os planos eram difusos, como se os músicos estivessem todos espremidos entre as caixas.

Foi colocar o pedestal DeVore e os planos apareceram e a altura ganhou precisão cirúrgica. Mas os pedestais originais também são essenciais para a reprodução e velocidade dos graves da caixa, deixando-os muito mais corretos e com maior extensão e melhor corpo na região médio-grave.

O que nos pareceu mais ousado em sua assinatura sônica foi que sua região média-alta é bastante aberta, porém mesmo em audições prolongadas (de mais de 8 horas) a ausência de fadiga auditiva é total! E, a medida em que você vai observando nuances que outras caixas não mostram, seu interesse por prolongar as audições a cada dia só vão aumentando.

Perto do final do teste, fiz uma audição de quase 10 horas para passar todos os discos da metodologia (quase 100) para poder devolver a caixa para o distribuidor, já que existia uma fila de interessados em conhecer a DeVore. Posso dizer que o ‘felizardo’ que ficar com a caixa, será poupado do longo amaciamento e desfrutará de todas as suas qualidades desde o primeiro disco.

Antes de conhecer a DeVore, a bookshelf que mais havia me encantado fora a Boenicke W5SE. Os que leram esse teste sabem o quanto aquela pequena notável me impressionou. Interessante que são duas propostas muito distintas, mas ambas chegam no mesmo obje-tivo: deixar o ouvinte completamente rendido à forma com que apresentam a música.

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O que significa que, para se atingir determinado grau de refinamento, não existe apenas um caminho. Porém, o objetivo só será alcançado utilizando como princípio a música ao vivo.
Ambas as trajetórias dos dois projetistas são bem semelhantes, pois buscaram, primeira-mente, entender como a música soa em um ambiente acusticamente.

Possuem assinaturas sônicas muito distintas, porém algo imprescindível para um bom resultado as colocam no mesmo barco: a forma com que tratam a reprodução musical. Ambas objetivam o todo e não as partes. Dão ao ouvinte a música por inteiro sem conce-ssões ou atributos que ‘floreiem’ a realidade. Não douram nada e, sabendo que há limitações físicas, oferecem uma solução muito inteligente: coerência e naturalidade.

Quem busca essas qualidades na reprodução eletrônica saberá o valor dessa escolha.

O ouvinte, frente uma proposta dessa magnitude, não tem outra escolha a não ser se render e mergulhar na música como ele só ousava fazer em uma apresentação ao vivo!

À princípio, parece ser o objetivo final de todos os audiófilos mas, acredite, só os que já entenderam que o sistema não pode ser maior do que nosso desejo de se emocionar com a música que amamos, entenderão literalmente a proposta de John DeVore. Se você se encontra nesse grupo dos que apenas desejam ouvir seus discos de cabeceira e se emocionar a cada nova audição, ouçam a pequenina DeVore Gibbon 3XL.


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ref. Clube do Áudio.
Edição 248.
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