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Murasakino Sumile Cápsula de Toca disco - Review Clube do Áudio

4 de agosto de 2022 – Reviews

Fernando Andrette.

Cápsula de toca disco Murasakino Sumile 

Cápsulas sempre foram uma das minhas paixões. Talvez esse amor venha da minha mais tenra infância, quando meu pai me levava em seus clientes para a instalação de toca discos. Essa era sua especialidade e sua extensa carteira de clientes comprovava o respeito do mercado, pelo seu conhecimento, paixão e profissionalismo. Seus ajustes de toca-discos eram cercados de um verdadeiro ritual e de perfeccionismo. Sua caixa de ferramentas e sua pasta de couro eram suas credenciais. Gostava de trabalhar em silêncio absoluto, sem ser importunado ou apressado.

Queria ver meu pai contrariado era ele chegar no cliente e ver um bando de audiófilos reunidos esperando para fazer a primeira audição. Isso o incomodava profundamente e fazia com que muitas vezes a instalação não ficasse como ele gostaria. Desde muito cedo, naquelas visitas que eram quase que semanais, percebi a importância do conjunto braço e cápsula para uma melhor performance do sistema. 

Separo aquele período em antes da reserva de mercado e pós reserva de mercado. No período anterior, a diversidade de modelos e as opções de preços eram enormes, tanto em cápsulas como de toca-discos. Pós reserva de mercado, as opções foram ficando cada vez mais escassas, até as opções se resumirem às cápsulas Shure, uma ou outra cápsula Denon, as Audio-Technica e as famigeradas Leson.

Escutei tantas cápsulas nesses sessenta anos que, se não recorrer às minhas anotações pessoais, irei esquecer de muitas cápsulas importantes. Felizmente as opções hoje são enormes. E o apaixonado por analógico pode optar por boas cápsulas a partir de 200 dólares, até cápsulas Estado da Arte de 15.000 dólares! E, ao contrário do digital - em que para cada subida de degrau na performance é preciso gastar uma quantia razoável - quando as cápsulas são bem casadas com o braço, o custo de seguros upgrades de cápsulas é muito menor! O que certamente explica o motivo de ser um mercado tão competitivo e com tantas opções dentro da mesma faixa de preço.

Outra característica relevante em termos de cápsula: não necessariamente a mais cara possui uma performance muito superior a uma outra vinte ou trinta porcento mais barata. Então, no analógico, a primeira dica é pesquisar, pois muitas vezes encontramos cápsulas de nível superlativo com uma relação custo/performance excepcional. Este é o caso da cápsula Sumile da Murasakino!

Nunca tinha ouvido falar desta marca até o Fernando Kawabe me ligar para dizer que tinha pego a representação para distribuição no Brasil. Nesta ligação, ele me contou um pouco da história deste fabricante, e minha curiosidade ‘ascendeu’ quando ele me disse que projetista havia trabalhado, antes de fundar sua empresa, na Air Tight, justamente sendo o responsável pela produção das cápsulas deste fabricante. E, como sou usuário da Air Tight PC-1 Supreme há três anos, achei que seria muito interessante que ouvíssemos a Sumile.

Murasakino Sumile, em japonês, significa violeta (talvez o nome tenha inspirado a cor do cartucho, ou vice-versa... vai saber). O jovem Murasakino, depois de vários anos na Air Tight, resolveu desenvolver sua própria cápsula. Um cartucho MC de baixa impedância (apenas 1,2 Ω). Para se produzir uma cápsula de baixa impedância é preciso apenas reduzir o número de voltas na bobina. Porém, menos voltas na bobina reduz a tensão de saída, invariavelmente trazendo maior ruído de fundo no sinal.

Cada fabricante tenta compensar esses ‘problemas’ de inúmeras maneiras. Murasakino optou por assegurar a tensão de saída suficiente para que a cápsula possa ser utilizada com a maioria dos prés de phono disponíveis no mercado (em relação à minha PC-1 Supreme a Sumile dá 1,6 dB a menos). Isso fez com que, após instalada e amaciada, tivesse que realizar um novo ajuste no pré de phono Tom Evans, aumentando o ganho em 2 dB).

Outra escolha de Murasakino foi do uso de aço inoxidável na base do cartucho. O aço inoxidável é conhecido (segundo o fabricante) por sua qualidade de som estável, por isso sendo muito utilizado também em braços. Comparado com o alumínio, o aço inoxidável é mais rígido, porém sendo muito mais difícil de processar. Mas, segundo Murasakino, o resultado foi plenamente recompensado.

Mas o senhor Murasakino foi além, ao chapear a base da cápsula com ouro, para fazer com que o amortecimento fosse o mais pleno possível. Esse cuidado resultou (pudemos observar audivelmente durante os testes), em uma melhora significativa no silêncio de fundo do sinal, desde a primeira audição feita após a instalação. Outra função do chapeamento de ouro no aço inoxidável (segundo o fabricante) é que o revestimento de ouro protege o aço das intempéries do uso e da exposição ao tempo. Minhas vistas já não são tão confiáveis como há quinze anos. E todos que possuem toca-discos sabem que vistas precisas e mãos seguras são fundamentais para a instalação de cápsulas e ajuste fino.

Por longos oito anos esse trabalho de ‘relojoeiro’ foi entregue ao querido colaborador Christian Pruks - escrevi até em sua homenagem, há algum tempo, um Espaço Aberto falando de sua expertise e paixão em ajuste de toca-discos. Como ele atualmente não mora mais em São Paulo, recorri a outro amigo e leitor da revista, o André Maltes, que também possui o dom de ajuste de toca-discos e de gravadores de rolo. E ele, em menos de dois meses, veio ajudar-me. Primeiro instalando uma cápsula Transfiguration Proteus para eu escutar em meu sistema e, posteriormente, a Sumile. Tenho que dar meu testemunho que
ambas as instalações e ajustes ficaram primorosos! Mostrando a qualidade do serviço do André Maltese. Indico a todos que desejem uma instalação precisa e de alto nível que entrem em contato com ele.

Para o teste utilizamos nosso setup de referência: pré de phono Tom Evans Groove+, braço SME Series V, cabos Sunrise Quintessence e Sax Soul Ágata (e no final do teste o cabo Ortofon Reference Black, teste que sairá na próxima edição).
O fabricante fala em no mínimo 100 horas de amaciamento. Eu estenderia esse período para no mínimo 180 horas. A boa noticia é que o nível de performance é tão alto que você já pode sentar e ter o prazer de ouvir desde o primeiro instante, pois duas características são inatas: silêncio de fundo e equilíbrio tonal.

Claro que algumas gravações com qualidade técnica inferior podem soar um pouco ‘ardidas’ ou ‘brilhantes’, mas ainda assim não serão descartadas. O som, nas primeiras 50 horas, é um pouco magro, principalmente no médio-grave. E esse ‘emagrecimento’ causa a sensação que a região média-alta se apresenta mais frontalizada. Mas, não se perturbe, pois com o crescimento do corpo nesta região, tudo se encaixa.

Os planos, a partir de 60 horas, ganham uma profundidade impressionante, como se a cápsula Sumile passase para um outro patamar de performance. A partir deste ponto, o corpo na região médio-grave também já encaixou, fazendo com que possamos ‘revisitar’ aqueles discos que estavam com a região média-alta mais ardida e escutá-los com muito mais prazer. O silêncio de fundo desta cápsula é tão impressionante que o ouvinte perceberá de imediato que a quantidade de informação que esta cápsula extrai de todas as gravações é infinitamente maior do que ele está acostumado a escutar. E quanto maior a complexidade do sinal e a variação dinâmica, mais impressionante se torna sua performance.

E a Sumile possui uma folga dinâmica estratosférica! Discos em que você acha que já está no limite do volume que a gravação permite, você poderá tranquilamente (se as caixas suportarem sem distorcer e o amplificador sem clipar) ainda aumentar de 1 a 1,5 dB. O que, para determinados gêneros musicais, pode fazer uma diferença e tanto no prazer auditivo!
Com 100 horas os extremos finalmente ganham total extensão e um decaimento de uma naturalidade cativante.

Poucas vezes em minha vida de articulista ouvi pratos tão exuberantes e realistas como com esta cápsula. Como meu filho muitas vezes coloca a bateria na sala de teste, para realizar suas gravações, tenho a oportunidade de comparar os decaimentos dos pratos de sua bateria com algumas excelentes gravações e a Sumile realmente é encantadora pelo grau de realismo e precisão.

No outro extremo, ouvimos inúmeras gravações com órgão de tubo, com Hammond, bateria, etc. E novamente recorri ao bumbo de 22 polegadas do meu filho para comparar os transientes, corpo, decaimento e velocidade. Comparado à PC-1 Supreme, diria que a Murasakino Sumile tem menos energia ou deslocamento de ar. Mas, em termos de precisão e velocidade é muito emparelhada (e custa 2 mil dólares a menos). Suas texturas são as mais impressionantes que escutei até o momento. São palpáveis, naturais e de um conforto auditivo pleno e arrepiante! Peguei-me inúmeras vezes ao reproduzir meus quartetos de cordas com os pelos dos braços arrepiados e pasmo por tão bela apresentação!

COMO TOCA.

Outra característica que chamou muito nossa atenção é sua compatibilidade com prensagens de discos de 90 gramas até 180 gramas, com uma trilhagem perfeita e um equilíbrio estéreo espetacular (será mérito do André Maltese ou dos dois?).
Todos temos discos mais bem conservados e outros muito judiados pelo tempo. E sabemos que não são todas as cápsulas que são condescendentes com todos os nossos discos. Minha PC-1 Supreme até tenta, mas em algumas gravações o ruído de fundo é bastante evidente e dedura a idade do disco.

A Murasakino Sumile, com sua trilhagem, tem a capacidade de nos permitir escutar esses discos com melhor conforto. E quando escolhemos aqueles discos que ainda estão bem conservados, meu amigo, o deleite e o impacto é instantâneo! Digno de, ainda que sozinhos, expressar um sonoro UAU!

Todos temos nosso gosto pessoal. Buscamos imprimir no sistema de nossos sonhos tudo aquilo que imaginamos ser o ideal em uma reprodução de alto nível. E quando temos a possibilidade de conhecer um produto que nos possibilita ampliar nosso leque de exigências, fica difícil voltar atrás. Todos nós já passamos por isso, seja em uma audição na casa de um amigo, ou no empréstimo por um final de semana de um produto que joga nosso sistema para um degrau acima.

Queria, para o teste da Murasakino Sumile, estar com dois braços idênticos no toca-discos Air Tight para poder fazer um AxB imediato. Infelizmente não foi possível realizar este comparativo. Então tive que recorrer à memória auditiva e aos três anos de convivência com minha cápsula de referência. Ainda que sejam cápsulas com inúmeras características similares (ruído de fundo muito baixo, excelente equilíbrio tonal, enorme naturalidade, velocidade, precisão e materialização física do acontecimento musical), elas são bem distintas na forma de se apresentar.

A PC-1 Supreme é muito mais exigente com o conjunto, desde os cabos até toda a eletrônica. Não permite nenhum elo fraco aparente. Possui, quando bem ajustada e sinérgica com o resto do sistema, um grau de precisão e energia espantosos!

A Murasakino Sumile parece mais ‘condescendente’ com gravações, prensagens, discos mais gastos, porém também muito exigente com seus pares, mas um pouco mais flexível e democrática. Permite composições com cabos e qualidade técnica de gravação que a Air Tight não aceita. Com essa maleabilidade, a Sumile me parece uma cápsula mais flexível, o que certamente lhe dá uma boa vantagem para aqueles que precisarão realizar upgrades de longa duração. 

CONCLUSÃO.

A Murasakino Sumile é uma cápsula fabulosa que permite uma gama de possibilidades de setup muito grande. Auditivamente possui um alto nível de performance que prima por estabelecer um patamar de fidelidade só presente em cápsulas de custo superior.
Encontrar uma cápsula com todos esses atributos superlativos a menos de 12 mil dólares faz da Sumile uma escolha quase obrigatória. Para quem deseja a melhor relação possível entre custo e performance.
Estado da Arte!

Cápsula murasakino sumile

estado de arte - clube do áudio

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Clube do Áudio - Edição 248
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